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Meio milhão de trabalhadores ainda sem qualificação no CE



Empresas de prestação de serviço já temem ter de importar profissionais para atender às demandas

O Ceará, a exemplo do restante do País, também vive o dilema da falta de mão de obra qualificada, o que pode entravar o crescimento econômico local, o qual deve intensificar-se com a chegada de empreendimentos estruturantes. De acordo com Júnior Macambira, pesquisador e analista de mercado de trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), dentro do universo de pessoas ocupadas no Ceará, existe meio milhão de trabalhadores sem qualificação profissional.

Este gargalo, inclusive, está levando preocupação às empresas de prestação de serviço no Brasil, as quais temem ter de importar mão de obra para atender as demandas que tendem a se intensificar com a proximidade da Copa de 2014. A atenção à questão da capacitação de trabalhadores atinge 91% dos empresários entrevistados na Pesquisa Ipema, encomendada no último mês de setembro pela Central Brasileira do Setor de Serviços (Cebrasse).

A central empresarial, que reúne cerca de 80 entidades patronais representantes de aproximadamente 600 mil empresas prestadoras de serviços, responsáveis pela geração de mais de 9 milhões de empregos formais no país, aplicou o levantamento em 65 entidades representativas e empresas de várias atividades de prestação de serviços nas cinco regiões brasileiras.



Maior problema
A ausência de mão de obra qualificada é apontada por 91% dos entrevistados como principal entrave enfrentado hoje para o crescimento das empresas, superando inclusive, problemas recorrentes como a carga tributária e as leis trabalhistas, que receberam 84,6% e 73,8% das indicações, respectivamente. O estudo revela também que, dentre os principais desafios internos de médio e longo prazos para as empresas manterem seu crescimento, a atração e retenção de profissionais bem qualificados é citada por 81,5% dos entrevistados como o principal problema. "Em março do ano passado, um quarto dos entrevistados já citavam essa questão, agora pontuada por 81,5% deles", alerta Paulo Lofreta, presidente da Cebrasse.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicam que nas Regiões Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre há 1,440 milhão de pessoas sem ocupação devido à falta de qualificação. São 488 mil pessoas entre 18 e 24 anos, 713 mil entre 25 e 49, 114 mil entre 15 e 17 anos e 126 mil na faixa acima de 50 anos de idade. Lofreta lembra, em relação à Copa de 2014, o setor de serviços é o mais demandado.

Demanda na Copa
"Das ações privadas do mercado às etapas dos investimentos públicos de R$ 45 bilhões na infraestrutura das 12 cidades-sede dos jogos e em todas as demais ações antes, durante e depois dos jogos", reforça o presidente da Cerbrasse, segundo quem sem uma providência imediata e conjunta em poucos meses o Brasil terá de importar pessoas para empregar.

Causas históricas
Segundo explica Junior Macambira, do IDT, a escassez de mão de obra no País é fruto de três fatores. "Primeiro o país renunciou ao seu planejamento durante anos e só agora está retomando. Em segundo lugar, esse cenário é resultado do investimento no passado na formação de profissionais dissociada das demandas do mercado. Por fim, ela reflete o fato de que os mais conservadores não acreditaram no crescimento do país. Hoje a construção civil, a indústria naval e a indústria de transformação são os setores mais penalizados porque não apostaram nesse crescimento que vivenciam hoje", resume o analista de mercado de trabalho.

Investimento privado
Para ele, a saída é a união da iniciativa privada com o poder público. "Investir em formação, qualificação e educação não se faz da noite para o dia, mas em médio e longo prazos. Não dá para esperar só do Estado. O setor produtivo precisa investir na capacitação profissional, criando políticas próprias de qualificação de mão de obra para seus empregados", completa Júnior Macambira.

ÂNGELA CAVALCANTEREPÓRTER
Falta de mão de obra

"O cenário resulta da formação de profissionais dissociada das demandas do mercado"
JÚNIOR MACAMBIRA
Analista de mercado de trabalho do IDT

IMPACTO NA RENDA
Nível educacional agrava desigualdade

Para pesquisadores do Ipece, somente a melhora na educação pode amenizar diferenças de renda no Estado

Mesmo com a recente redução na concentração de renda no Estado, o Ceará ainda convive com uma considerável heterogeneidade dos trabalhadores em termos de produtividade e de capital humano, o que faz com que as diferenças educacionais entre os indivíduos se transformem em desigualdade na renda mais acentuadas. Ao mesmo tempo, existem imperfeições no mercado de trabalho local (como discriminação e segmentação, por exemplo), que fazem com que os trabalhadores cearenses igualmente produtivos estejam sendo remunerados de forma diferenciada.

As conclusões fazem parte do estudo "Produção e reprodução de desigualdades no mercado de trabalho cearense: uma análise da decomposição para o período 2001-2008", dos economistas Valdemar Rodrigues de Pinho Neto e Vitor Hugo Miro, respectivamente, técnico e analista de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

Redução da concentração
"Com esse trabalho procurarmos investigar a desigualdade de renda existente no Estado, buscando um melhor entendimento da recente redução na concentração de renda no Ceará e destacando a importância da dinâmica do mercado de trabalho nesse processo", destaca Pinho Neto.

Principal fator

Conforme explica, com base nos resultados encontrados, verificou-se que a má distribuição da educação entre os cearenses se mostrou ser o principal fator responsável pelos elevados índices de desigualdade da renda salarial existente no Estado. "No entanto, observa-se que a participação da educação na explicação da desigualdade do ano de 2008 sofreu uma redução se comparado a 2001, resultado, principalmente, de um maior acesso da população aos serviços educacionais", fala. O mesmo ocorrendo com as imperfeições encontradas no mercado de trabalho cearense. "Assim como os resultados encontrados para a educação, tal imperfeição de mercado vem perdendo participação na determinação do nível de concentração de renda, o que fez com que este fator tenha é contribuído para a redução da desigualdade salarial cearense", acrescenta.

Na sua avaliação, estas informações permitem que se estabeleçam critérios para adoção de ações públicas mais efetivas e menos dispendiosas para o Estado, que visem melhorar o desempenho e a eficiência do mercado de trabalho e, consequentemente, elevar o bem-estar da população.

Distinção salarial
"No caso da desigualdade revelada pelo mercado, com o diferencial de salários explicado pala heterogeneidade dos trabalhadores, sugere-se que se dê prioridade à ampliação das oportunidades de acesso à educação formal e formação profissionalizante para se garantir uma melhora na produtividade dos trabalhadores, de forma que os ganhos de renda sejam distribuídos de forma mais homogênea entre os indivíduos", orienta o economista. Já com relação à desigualdade salarial ocasionada pelas imperfeições do mercado de trabalho, o pesquisador aponta como solução ações que busquem uma diversificação produtiva acompanhada de uma maior complementaridade entre os diversos setores da economia, a fim de minimizar os seus efeitos.

"Esses resultados evidenciam que o combate às desigualdades socioeconômicas no Ceará requer necessariamente uma ampliação e melhoria do sistema educacional vigente, bem como, deve-se incentivar o bom funcionamento do mercado de trabalho de forma que este consiga, de forma eficiente, reduzir suas imperfeições e, consequentemente, a desigualdade por ele gerada", conclui o estudo.

ANCHIETA DANTAS JR.REPÓRTER
MAIS INFORMAÇÕES
O Estudo será apresentado durante VII Encontro Economia do Ceará em Debate, dia 11 (sexta-feira), na Assembleia Legislativa.             (85) 3101-3496      




Fonte : DIÁRIO DO NORDESTE